and fade out and fade out again

o oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença.

érico veríssimo

não ligou hoje. não vai ligar amanhã.
vai dizer que é a crise de qualquer-ite e que precisa de um tempo para si.
não por causa da doença, mas porque não quer mais.

pode ser que até ligue, mas vai estar indiferente. já não vai dizer que está com saudades. vai criar um silêncio. e não vamos mais saber o que falar.

primeiro ela reclama, dizendo que ele foi um cachorro desvalido.
depois acha que não vai conseguir. a vida com ele bastava.
dependência emocional também é uma droga.

vai atravessar o limbo, vai estar cega, vai dormir agarrada à loucura.
vai matar metade dos sonhos. vai morrer. morrer como não se morre todos os dias. vai morrer de uma só vez.

e por enquanto só o tédio há de a acompanhar.

a velha apatia nova de cada dia

apatia

• sf (lat apátheia)

impassibilidade de espírito.
indolência.
teol. indiferença total em relação às coisas terrestres.
filos. ausência de afetos e paixões.

me parece que todo esse acúmulo de apatia pela realidade de cada um acontece pelos desencantos gerados por expectativas não correspondidas entre pessoas.

ou a ira de lidar com personalidades tão superficiais e pessoas tão cismadas nos seus próprios axiomas e verdades; o individualismo e todas as opiniões de mundinhos egocêntricos.

vamos logo para a fase do:

– era só mais uma namorada babaca
– um emprego chato
– um mundo onde as coisas não funcionam como deveriam, mas “funcionam”?

nem é nada demais.

tudo neste mundo é uma cópia

nada se cria, tudo se copia. essa frase, por exemplo, é uma cópia. provavelmente o estilo que você adotou pra dar forma à sua personalidade, também foi copiado de alguma revista, ou, sei lá, de um mix de um monte delas. até a receita da sua avó para o seu bolo favorito, com certeza, foi copiada. não há como fugir dessa realidade universal, o mundo inteiro copia alguma coisa de algum outro lugar.

especificamente no mundo das artes, o ato de copiar é quase uma regra. nas agências de design e publicidade, na maioria das vezes, acontece de o responsável pelo projeto enviar para o criativo/criador, as famosas “referências visuais”. o que ele quer dizer ao deixar um material já pronto (bem criativo, por sinal) na mesa de quem irá criar é “queremos algo parecido com isso”, got it?

é o que justifica “coincidências” como esta, por exemplo:

à esquerda, um anúncio publicitário da BMW, veiculado em 2008 na Itália. à direita, um anúncio da mitsubishi, veiculado em 2010 no Brasil.

 

algumas cópias são descaradas. Outras, bem discrepantes. tão desiguais, que chegam a levantar uma série de questionamentos sobre os valores e padrões morais de comportamento dos seres humanos (drama mode on), como foi o caso Angra vs. Parangolê, em abril de 2011, no qual o grupo de axé parangolê foi acusado de plagiar um riff de guitarra da banda de heavy metal melódico angra. não é preciso ser nenhum maestro João Carlos Martins da vida para saber que axé e heavy metal, definitivamente, não se misturam. resultado disso: barraco.

metal x axé

 

os trechos:

mas, se você pensa que essa história de ctrl+c, ctrl+v é um mero capricho designado a nós, reles mortais, anime-se (ou não): até no universo cult/nerd essas coisas acontecem.

“somos como anões nos ombros de gigantes. nós vemos mais e, além deles, não por causa de qualquer distinção física a nossa, mas porque somos criados pela sua grande altura.”

bernard de chartres, aprox. 1113

“se enxerguei longe, foi porque me apoiei nos ombros de gigantes.”

isaac newton, 1976

nem quentin tarantino escapa:

 

 

essas duas últimas imagens também são cópias. elas vieram da série estadunidense everything is a remix, na qual kirby ferguson faz um compilado de cenas de filmes, músicas e personagens que nada mais são que cópias (ou referências) de outras coisas. entre eles, destacam-se piratas do caribe, led zeppelin e, para descontentamento geral da nação nerd, até star wars é uma réplica.

vale a pena conferir os quatros documentários de ferguson produzidos até agora. acredite, depois dele, a sua concepção de “aquela menina que estava com um vestido igual ao meu na festa passada”, nunca mais será a mesma (drama mode off).

trinta e dois fahrenheit

havia uma quantidade significativa de cartas na minha terceira gaveta do lado direito do guarda-roupa. eu nunca mais as li, por isso me vi no direito de queimá-las. cartas, na verdade, é um modo generalizado de dizer que um pedaço do meu passado estava trancado naquele lugar. e não era um lugar qualquer. era o meu quarto. o lugar mais específico do meu universo particular. e dentro dele, um pórtico. uma pequena porta fria, densa e carregada de gelo.

a ironia nascia justamente aí: tacar fogo no que estava há muito congelado.

não sei quando foi. mas me lembro exatamente como. era um sábado à tarde, e no armário da lavanderia tinha álcool, querosene e velas. só o primeiro estava bom. sem exageros com o querosene a mais, e as velas… bem, o ato em si já seria um ritual.

foi ali em cima do tanque mesmo. joguei o álcool, acendi um único fósforo. dilacerei em fragmentos tudo aquilo que um dia foi um todo. simplesmente para diminuir a superfície de contato entre cada uma das partes. assim, aquilo acabaria logo, de uma vez.

queimei.
queimaram.

foi até rápido, a não ser pelo último instante, quando reparei que havia esquecido de picotar a carteirinha de plástico.
enquanto o restante já era cinza, aquela foto de sorriso tímido, inseguro e calouro se queimava bem lentamente.

me lembrei de tudo que ainda tinha pra esquecer.

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